Deparei-me com esta tendência quando estava arquitetando a estrutura do desenvolvimento do Líder Cocriativo para lideranças contemporâneas, e me apaixonei pelo tema. Hoje aplico em várias organizações este modelo, gerando resultados surpreendentes e sustentáveis. Neste artigo irei abordar um pouco sobre este tema. Tenho certeza que irá te provocar também.
As organizações, desde o tempo dos mais antigos estudiosos da administração, como Fourier, Morelly, Blanc, Saint Simon, passando pelos tradicionais Taylor e Fayol, preocupavam-se primordialmente com a estrutura. Foi Elton Mayo, já na terceira década deste século, quem começou o questionamento sobre as relações humanas, dando algumas das primeiras contribuições a essa temática, seguido principalmente por Follet e Barnard. Este, no seu estudo da “Autoridade e Comunicação”, defendia que “as pessoas têm motivações individuais e cooperam com os outros para atingir certos propósitos” (Apud PARK, 1997).
A visão mecanicista, que encara a organização como estruturas rígidas, foi deixada de lado de maneira inflexível por estudiosos – como por exemplo Fritjof Capra – que propuseram a chamada visão sistêmica, pela qual se encaram as organizações como organismos vivos, as quais, dentro do paralelo, desenvolvem-se e adaptam-se aos impulsos da realidade. Segundo Capra, “o controle não é a melhor abordagem, mas sim a cooperação, o diálogo e a colaboração” (Apud REGIS & MOGGI, 1994:138-139), deixando claras as suas posições sobre o poder e suas manifestações no âmbito organizacional.
Jean Bolen é psicanalista junguiana. Esta gestão Círculo é inspirada no experimento científico denominado O Centésimo Macaco, que demonstrou que um aprendizado adquirido por um grupo de símios em uma ilha isolada acabou se propagando, de forma espontânea, para macacos que habitavam em outras ilhas. Um grupo cria uma massa crítica que transcende seus próprios limites e se transmite pelo ambiente onde se encontra. Segundo a pesquisadora, um milhão de círculos propagando o novo modelo de mundo que queremos poderá atingir a humanidade inteira e mudar o planeta, instaurando a nova era pós-patriarcal.
O círculo não é hierárquico, ele permite que todos olhem para todos em uma situação de igualdade. O fluxo de energia se concentra no centro, com a união de todos os raios. Na ponta de cada raio estão os participantes do círculo e no centro o propósito. Essa disposição propicia maior poder à organização, bem como o compartilhamento coletivo das experiências individuais: é uma nova forma de organização humana. O círculo cria um continente cuja criação só depende de nós mesmos. Cocriar com e através das pessoas.
Neste momento o poder é dividido e a responsabilidade da busca de alternativas/soluções é do grupo que gera corresponsabilidade nos resultados. Geralmente estes grupos são multidisciplinares e multisetoriais. É um espaço permeável e retro-alimentável. Ele é um campo mórfico vivido pela humanidade há milhares de anos, comprovado pelo estudo das tradições. O homem perdeu esse conhecimento e agora busca resgatá-lo. Este resgate vem acompanhado pelas ansiedades geradas pelas novas gerações de indivíduos que compõem as organizações.
As empresas se preocupam com a instabilidade do mercado e veem crise diante do menor sinal de incerteza. No entanto, quando se centra, se coloca foco, a insustentabilidade, que é o que provoca as crises, se torna previsível. E esse cenário não se modificará se os movimentos necessários não acontecerem. A sustentabilidade depende do equilíbrio de muitos fatores, busca atender às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras.
A gestão circular traz as ferramentas para as organizações tornarem a vida sustentável, que é o nosso objetivo maior. Ela convoca as pessoas a se tornarem líderes, em primeiro lugar de nossas próprias vidas. Estamos sempre liderando alguma coisa. Não temos mais pelo que esperar para pôr a mão na massa, para fazer a diferença. O momento de agir é AGORA! Lembrando o antigo ditado: “Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece.”
Esse modelo é mais democrático do que as outras maneiras de gestão, influindo diretamente nas relações de poder. Reconstrói-se uma forma de relacionamento destruído pelo patriarcado. A mudança só vai acontecer quando nos mudarmos e passarmos a ouvir o outro. A gestão circular faz com que identifiquemos as formas que lidamos com o poder e aprendamos a compartilhá-lo de verdade. Percebe-se que a liderança se alterna, é fluídica, depende de cada situação, de cada momento. Torna transparente a sinceridade que aceitamos o empoderamento de cada um. O líder deve saber entregar seu poder, e não apenas simular. O círculo reconhece o poder do outro, a existência de mais de uma verdade. Pede experimentação: liderar e ser liderado. É um novo formato para a vida da gente.
Hoje os governos gastam bilhões com hospitais: uma parcela ínfima desse dinheiro daria mais retorno em saúde pública se fosse aplicado nos processos de participação popular, como o movimento das cidades saudáveis. O modelo ainda vigente é o de acumular energia e amedrontar as pessoas.
É chegado o momento de nos tornarmos líderes, assumindo nosso papel onde for necessário e possível, em um novo conceito. Dentro do conceito de evolução ou transformação, podemos frisar a ideia da organização sistêmica como elemento capaz de gerar autodesenvolvimento, as chamadas “learning organization” (organizações que aprendem). Segundo Charles Handy, “as empresas necessitam se transformar de forma consciente em empresas de aprendizagem, locais onde a mudança seja uma oportunidade, onde as pessoas possam crescer à medida que trabalham” (HANDY, 1992:195). Essa transformação citada por ele tem relação com a própria capacidade da empresa de manter-se “viva” diante das turbulências a que está sujeita, além das exigências que lhe impõe o mercado para que sobreviva.
A transformação consciente significa também não ignorar a realidade e a cultura organizacional existentes dentro da própria empresa. “As organizações utilizam diversos modos de criar e maximizar sua aprendizagem. Premissas básicas da cultura organizacional levam a valores de aprendizagem e investimentos que produzem um estilo de aprendizagem diferente de uma cultura organizacional com outro padrão de valores e investimentos”. Contudo, o investimento na evolução de conceitos, a fim de buscar evolução mas não se desfazendo da tradição e dos conhecimentos adquiridos ao longo da existência da organização permitirão mais “oxigênio” na relação interna e com as demais empresas componentes do cenário empresarial.
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